Portadores de diabetes possuem até 4 vezes mais chance de desenvolver complicações cardiovasculares; controle precoce da doença é o principal aliado no tratamento
O diabetes ocupa o quinto lugar entre as doenças que mais matam no Brasil¹, e com o crescimento da doença, estima-se que o mundo esteja diante de uma das maiores crises globais de saúde do século XXI. Em 2017, a previsão é de que 4 milhões de pessoas sejam vítimas fatais do diabetes e suas complicações², sendo que as doenças cardiovasculares estão no topo das causas de morte entre portadores de diabetes em todo o mundo.
Se o cenário global é preocupante, no Brasil o contexto é ainda mais desafiador. Atualmente, cerca de 14 milhões de brasileiros convivem com a doença³, que se não tratada corretamente, pode comprometer diversas funções no organismo. O Dr. Carlos Eduardo Barra Couri, endocrinologista e pesquisador da USP de Ribeirão Preto, destaca que, além das doenças cardiovasculares, o diabetes pode se causar problemas como: lesões renais, oculares e neurológicas, problemas nos pés, disfunção sexual.
Segundo o Dr. Otávio Rizzi, cardiologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, de todas as complicações cardiovasculares, a insuficiência cardíaca possui um impacto significativo sobre os pacientes e sistemas de saúde. “A IC acontece quando o coração não consegue bombear sangue suficiente para todas as partes do corpo, é uma das comorbidades mais comuns do diabetes tipo 2, o que pode resultar em hospitalizações mais frequentes, além de impactar diretamente na qualidade de vida desse paciente” explica o especialista.
Um risco desconhecido
Apesar das múltiplas complicações que envolvem o diabetes, a relação da doença com risco cardiovascular ainda é um fato pouco conhecido pela população. O risco de infarto em pacientes com diabetes é um exemplo, podendo ser até quatro vezes maior em pessoas sem a doença4.
O Dr. Otávio Rizzi explica como as complicações cardiovasculares são potencializadas pelo diabetes. “O diabetes gera um descontrole nos níveis de açúcar no sangue, onde, justamente com a insuficiência na produção e utilização de insulina, origina-se um estado de inflamação. Esse quadro facilita o surgimento de placas de gordura, aumento do colesterol ruim e outras substâncias nas paredes das artérias, limitando o fluxo sanguíneo, e consequentemente, aumentando o risco de doenças cardíacas” explica.
Em uma recente pesquisa realizada pela Abril Inteligência, com apoio da AstraZeneca e do curso endoDEBATE, pudemos observar que apenas 43% dos portadores de diabetes e 27% dos não diabéticos acreditam que a doença pode ter relação com a incidência de um acidente vascular cerebral (AVC) e somente 47% dos portadores de diabetes acreditam que a doença possa estar relacionada com problemas cardíacos5.
Uma nova abordagem
O Dr. Couri expressa que a adesão precoce ao tratamento é fundamental para evitar grandes complicações do diabetes. “É muito importante estar atento a evolução do tratamento, e ao que chamamos de inércia terapêutica, que é a demora na intensificação do tratamento com outros medicamentos, o que é essencial na prevenção de uma série de complicações associadas” destaca.
Ainda segundo o especialista, nos últimos anos é crescente entre a classe médica, a necessidade de uma nova abordagem no tratamento do diabetes, o que implica, além da prescrição do tratamento, um olhar muito mais cuidadoso para as complicações da doença. “O diabetes é uma doença crônica e extremamente complexa, com fatores que vão muito além do controle glicêmico” explica a Dra. Denise Franco, endocrinologista e Diretora da ADJ Diabetes Brasil. “É necessária uma abordagem multidisciplinar para as complicações associadas e também para opções de tratamento da patologia, um exemplo é o trabalho em conjunto de um cardiologista e endocrinologista na terapia. Desmistificar conceitos associados ao diabetes também é muito importante para que o paciente tenha mais qualidade de vida e vença as barreiras do diabetes” diz a especialista.
Além disso, Denise explica que a condição para o sucesso no controle no diabetes e prevenção dos riscos cardiovasculares está no empoderamento do paciente sobre a sua doença. “O médico deve tornar o paciente protagonista de seu próprio tratamento, incentivando-o para que o mesmo sempre reflita e tome as melhores decisões em seu cotidiano” finaliza a endocrinologista.
O diabetes em números
- 425 milhões de portadores de diabetes no mundo
- 14 milhões de portadores de diabetes no Brasil
- Estima-se que até 2045, o número chegue a 629 milhões de pacientes
Fonte: IDF
O diabetes tipo 1
- É geralmente detectado na infância ou adolescência
- Acontece quando o pâncreas não consegue produzir insulina para levar o açúcar até as células, para que possam desempenhar suas funções
- Os principais sintomas são: muita sede e fome, vontade de urinar várias vezes ao dia e perda de peso sem motivo aparente
- Calcula-se que esse tipo de diabetes atinja 10% da população mundial
Fonte: ADJ Diabetes
O diabetes tipo 2
- Acontece quando o pâncreas diminui a produção e/ou capacidade de produção de insulina
- Pode ocorrer em qualquer idade, mas acomete principalmente pessoas após os 40 anos
- Os principais fatores de risco são: obesidade, sedentarismo, hipertensão arterial, colesterol elevado ou alterações na taxa de triglicérides. Síndrome dos ovários policísticos, histórico de doença vascular e apneia do sono também podem estar na origem do diabetes tipo 2.
- O DM2 é responsável por cerca de 90% dos casos de diabetes no mundo
Fonte: ADJ diabetes
Outros tipos de diabetes
- O diabetes gestacional afeta cerca de 10% das gestantes
- Os principais fatores de risco são: estar acima do peso antes de engravidar, elevado ganho de peso durante a gestação, já ter dado à luz a bebês com 4 kg ou mais e já ter apresentado diabetes na gravidez anterior
- Na maioria dos casos, os índices de açúcar voltam ao normal após o nascimento do bebê
Fonte: ADJ diabetes
Referências:
- https://noticias.uol.com.br/saude/listas/saiba-quais-sao-as-20-principais-causas-de-morte-no-brasil.html
- IDF Atlas 2017 http://diabetesatlas.org/resources/2017-atlas.html
- https://www.diabetes.org.br/publico/para-voces/sbd-na-imprensa/1413-mais-de-14-milhoes-de-pessoas-tem-diabetes-no-brasil-e-72-mil-morrem-todos-os-anos-no-pais
- http://www.diabetes.org/living-with-diabetes/complications/heart-disease/
- Pesquisa “Diabetes: o que os brasileiros sabem e não sabem sobre a doença” realizada pela Abril Inteligência, com apoio da AstraZeneca, entre os dias 23 de março e 19 de abril de 2018. Coleta de dados via web com 1050 respondentes, sendo 387 diabéticos e 663 não diabéticos.