Diversidade e Classificação das Variações Genéticas no Transtorno do Espectro Autista

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento com um alto grau de heterogeneidade, tanto em sua etiologia quanto em seus padrões comportamentais característicos. A prevalência do TEA tem crescido, alcançando cerca de 1% da população, e estudos com gêmeos indicam uma alta taxa de hereditariedade, entre 0,7 e 0,8. Esse alto componente genético impulsionou a pesquisa em genética molecular, que, com o avanço de tecnologias como o Projeto Genoma Humano, tem revelado uma complexidade genética enorme, com centenas de genes envolvidos.

A diversidade das variações genéticas associadas ao autismo é vasta, incluindo desde mudanças de um único nucleotídeo (SNVs) até anomalias cromossômicas completas. As anomalias cromossômicas, como a trissomia do cromossomo 21 (Síndrome de Down), estão associadas a um risco significativamente maior de TEA, mas respondem por apenas uma pequena fração dos casos. Variações no número de cópias (CNVs), que envolvem a perda ou duplicação de grandes segmentos de DNA, também estão fortemente ligadas ao autismo e podem ter efeitos dose-dependentes no fenótipo. Por exemplo, a duplicação do braço longo do cromossomo 7 está associada ao autismo, enquanto a microdeleção da mesma região na síndrome de Williams está ligada a uma alta sociabilidade.

A maioria dos casos de TEA, no entanto, parece ser de natureza poligênica, envolvendo a combinação de muitas variações genéticas em múltiplos genes. Essas variações podem ser herdadas ou surgir pela primeira vez no indivíduo (mutações de novo). A complexidade é ainda maior porque as variações podem ocorrer em regiões codificantes, que afetam diretamente a estrutura das proteínas, ou em regiões não codificantes, que regulam a expressão gênica e cuja função ainda é, em grande parte, desconhecida. A interpretação de dados genéticos é um desafio, uma vez que a lista de variações associadas ao autismo em diferentes estudos muitas vezes se sobrepõe apenas de forma limitada.
Embora o conhecimento genético do autismo tenha avançado dramaticamente, a tradução desse conhecimento para a prática clínica é lenta. Atualmente, o rastreamento genético pré-natal para variantes associadas ao autismo não é uma prática comum, pois a ligação entre uma variação genética específica e o diagnóstico de autismo ainda é incerta. No entanto, o teste genético após o diagnóstico pode ter benefícios, como fornecer explicações reconfortantes para as famílias e identificar outras condições médicas. O objetivo final da pesquisa é desenvolver intervenções personalizadas e mais eficazes, baseadas em perfis genéticos específicos, embora a terapia gênica ainda seja uma possibilidade distante.

Em última análise, a classificação de variações genéticas no autismo pode ser vista como um espectro multidimensional, abordando fatores como extensão, tempo de surgimento, conteúdo informacional, frequência, complexidade e padrão de herança. Essa abordagem está em sintonia com a visão do autismo como um espectro contínuo, sem categorias discretas. No entanto, a heterogeneidade da apresentação comportamental dos pacientes, que são diagnosticados com base em características clínicas, continua a complicar a análise genética e a busca por correlações mais claras. Futuras pesquisas com abordagens interdisciplinares e de biologia de sistemas são necessárias para decifrar a complexa rede de genes que subjazem ao TEA.


Referência:

Kereszturi, É. (2023). Diversity and Classification of Genetic Variations in Autism Spectrum Disorder. International Journal of Molecular Sciences, 24(23), 16768. https://doi.org/10.3390/ijms242316768

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