Desregulação Emocional como Sintoma Central do TDAH em Adultos: Evidências e Implicações

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do desenvolvimento com início na infância e prevalência de 3 a 5% em adultos. A nosologia diagnóstica atual, baseada nos critérios do DSM-5, concentra-se em três sintomas cardinais: desatenção, impulsividade e hiperatividade. No entanto, evidências crescentes sugerem que as dificuldades afetivas, em particular a desregulação emocional (DE), podem ser um quarto sintoma central do TDAH. Uma revisão sistemática da literatura busca unificar os dados disponíveis sobre a DE em adultos com TDAH, explorando suas características, sua relação com os sintomas do transtorno e as anormalidades neurofuncionais associadas.

A desregulação emocional é um processo complexo que envolve a modulação das emoções para alcançar objetivos, utilizando estratégias como a reavaliação cognitiva e a supressão de respostas. Em adultos com TDAH, a DE é frequentemente associada à gravidade dos sintomas, a déficits de função executiva (FE) e a prejuízos funcionais. Pessoas com TDAH usam mais estratégias não adaptativas, como a supressão de emoções, e tendem a valorizar negativamente suas próprias habilidades regulatórias. A supressão de emoções, em particular, pode prolongar o sofrimento emocional, mantendo um ciclo vicioso de desregulação.

A revisão encontrou evidências de que adultos com TDAH têm consistentemente pontuações mais baixas em medidas de regulação emocional em comparação com controles. A alta pontuação em DE foi associada a problemas como transtorno por uso de substâncias, condenações criminais e comorbidade com ritmo cognitivo lento (SCT) e transtorno de personalidade borderline (TPB). Embora a DE seja uma característica de outros transtornos, como o TPB, sua manifestação no TDAH pode ser distinta, o que sugere que o TDAH é um problema de regulação “top-down”. Isso significa que o TDAH pode ser causado por um déficit na capacidade do córtex frontal de modular as reações emocionais.

Estudos neurofisiológicos e de neuroimagem apoiam a hipótese de uma base neural para a DE no TDAH. Pessoas com TDAH mostraram padrões de ativação cerebral anômalos em áreas como o córtex cingulado anterior dorsal e ventral, especialmente ao processar estímulos emocionais. A maior amplitude de potenciais evocados no cérebro (ERP) sugere um esforço cognitivo maior para regular as emoções, o que se alinha com a hipótese de hiper-reatividade emocional em resposta a estímulos aversivos.

Intervenções psicofarmacológicas e comportamentais têm se mostrado promissoras no tratamento da DE em adultos com TDAH. O metilfenidato e a atomoxetina demonstraram melhorar a DE em comparação com o placebo. Terapias comportamentais, como o treinamento de atenção plena (Mindfulness), também mostraram eficácia na melhoria dos sintomas de DE e FE. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) pode ser uma ferramenta útil para melhorar as dificuldades emocionais no TDAH.

Em conclusão, a desregulação emocional é uma característica fundamental e prejudicial do TDAH em adultos. A evidência sugere que ela está profundamente interligada com os sintomas centrais do transtorno, bem como com seus déficits funcionais e anomalias cerebrais. É necessário que as diretrizes de diagnóstico e tratamento do TDAH sejam atualizadas para incluir a DE, permitindo uma abordagem terapêutica mais completa e eficaz. Futuras pesquisas devem focar em superar a heterogeneidade metodológica e amostral, e investigar como a DE se manifesta em diferentes subtipos, sexos e comorbidades, e como pode ser melhorada com intervenções específicas.

Referência:
Soler-Gutiérrez, A. M., Pérez-González, J. C., & Mayas, J. (2023). Evidence of emotion dysregulation as a core symptom of adult ADHD: A systematic review. PLOS ONE, 18(1), e0280131. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0280131.

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