Contribuições de Anton Makarenko para o Trabalho Coletivo na Educação Contemporânea

O presente artigo de opinião visa explorar as relevantes contribuições de Anton Makarenko para a concepção e aplicação do trabalho coletivo no campo educacional, conforme discutido em Mazer e Tedeschi (2025). Embora desenvolvido em um contexto histórico singular do século XX, as ideias de Makarenko sobre o trabalho coletivo mantêm-se pertinentes para a análise das contradições e desafios da sociedade e educação atuais.

Makarenko, pedagogo ucraniano, desenvolveu sua metodologia de trabalho coletivo em meio às profundas transformações sociais da antiga União Soviética, após a Primeira Guerra Mundial e durante a Revolução Russa de 1917. Convidado a dirigir instituições que abrigavam jovens considerados delinquentes, ele transformou esses desafios em oportunidades para inovar na educação, visando formar indivíduos capazes de integrar a nova sociedade soviética. Sua obra “Poema Pedagógico”, publicada entre 1932 e 1935, detalha as dificuldades enfrentadas na gestão da Colônia Gorki e a construção gradual da coletividade. Makarenko (2012, p. 21) reconheceu a necessidade de buscar uma metodologia educacional que atendesse às demandas reais da época, evidenciando uma busca incessante pela “verdade” pedagógica. Sua convicção era de que a educação soviética precisava ser distinta, mesmo sem ter clareza inicial de como desenvolveria essa abordagem.

A base do trabalho coletivo proposto por Makarenko reside na ideia de que “pelo trabalho coletivo que é proposto o desenvolvimento de ações coordenadas e organizadas com responsabilidade em prol do benefício comum” (Makarenko, 1977, p. 29). Essa perspectiva encontra ressonância na teoria vigotskiana, que, contemporânea a Makarenko, também enfatiza o desenvolvimento humano mediado pelo coletivo e pelas interações sociais. Para Makarenko, a formação da personalidade, com alto grau de consciência, responsabilidade social e qualidades morais elevadas, é inviável fora da coletividade (Makarenko, 1977, p. 4). A participação humana consciente em prol do bem comum, onde as ações individuais contribuem para a totalidade da sociedade, é fundamental para o coletivo.

A escola, nesse sentido, é vista como um espaço privilegiado para promover o desenvolvimento humano através das interações sociais, e a implementação de práticas pedagógicas intencionalmente planejadas e fundamentadas no trabalho coletivo pode otimizar a concretização de objetivos educacionais individuais e coletivos. As experiências bem-sucedidas de Makarenko na gestão de suas instituições demonstram a eficácia dessa metodologia, realçando a importância de cada indivíduo e do grupo nas relações de vida e sobrevivência. A comunidade, para Makarenko (1977, p. 47), une os homens não apenas por objetivos e trabalhos comuns, mas também pela organização geral desses trabalhos, onde o objetivo comum não é uma mera coincidência de metas particulares, mas sim o propósito de toda a comunidade. Assim, o individual e o social tornam-se complementares e indissociáveis.

Considera-se que a premissa de Makarenko, de que “todo ato que não se oriente aos interesses da coletividade é um suicídio e é nocivo para a sociedade e, portanto, para cada um” (Makarenko, 1977, p. 29) , embora enfática, sublinha a intensidade e profundidade dos malefícios de um desenvolvimento social que se desvia do trabalho coletivo. Em contrapartida, evidencia os benefícios gerados quando os sujeitos se articulam em prol do coletivo. As experiências de Makarenko oferecem um caminho viável para a educação escolar contemporânea, buscando promover ações humanas reflexivas e conscientes, que valorizem as necessidades sociais coletivas e questionem comportamentos individualistas, pouco benéficos para a classe trabalhadora.

Portanto, o legado de Anton Makarenko, embora construído em um período distinto, permanece essencial para a educação brasileira, ao propor uma união intencional de ações para formar uma coletividade forte e benéfica para a sociedade. O trabalho coletivo emerge como ponto de partida e de chegada para a formação humana, sendo um caminho para as transformações necessárias. Mesmo em uma sociedade capitalista, é possível a construção do trabalho coletivo, desde que as relações entre as características e os elementos necessários para sua edificação sejam respeitadas.

Referência:

MAZER, I. M. S. B.; TEDESCHI, W. Contribuições de Anton Makarenko sobre o trabalho coletivo. Open Minds International Journal, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 108-113, 2025. DOI: https://doi.org/10.47180/omij.v6i1.353.

 

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