A psicopatia é um construto clínico complexo associado a anomalias na atividade cerebral, que podem ser caracterizadas por padrões de ativação alterados em diversas regiões do cérebro. Uma meta-análise que incluiu 155 experimentos identificou 753 focos de ativação cerebral, fornecendo uma base para a compreensão das alterações neurais em indivíduos com psicopatia. Os resultados dessa análise são representados por mapas de estimativas de probabilidade de ativação (ALE), que mostram a união das ativações modeladas em todos os experimentos que relatam atividade cerebral atípica associada à psicopatia, bem como experimentos que relatam atividade cerebral aumentada e diminuída.
Uma caracterização funcional de regiões cerebrais com atividade alterada na psicopatia foi realizada através da análise de termos psicológicos e domínios comportamentais, utilizando metadados do BrainMap. Este processo utilizou uma abordagem de inferência direta, que determina a probabilidade de encontrar uma ativação em um determinado “cluster” de neurônios, sendo significativamente maior do que a chance geral, para caracterizar o perfil funcional de um grupo de neurônios. A inferência reversa também foi empregada para determinar a probabilidade de associação com uma função comportamental, dada a atividade cerebral observada em uma região específica.
Diversos estudos exploraram a neurobiologia da psicopatia, utilizando ressonância magnética funcional (fMRI) para investigar as respostas cerebrais em diferentes tarefas. Por exemplo, estudos de Caldwell et al. (2015) e Harenski et al. (2014) investigaram o processamento moral em indivíduos psicopatas. Outras pesquisas, como as de Contreras-Rodríguez et al. (2014) e Kiehl et al. (2001), focaram no processamento emocional. Os participantes desses estudos foram avaliados utilizando escalas como o PCL-R (Psychopathy Check List), PPI-R (Psychopathic Personality Inventory-Revised) e LSRP (Levenson Self-Report Psychopathy Scale), entre outras. As populações estudadas incluíram indivíduos de instituições correcionais, comunidades universitárias e a comunidade em geral.
Apesar de as fontes fornecidas não apresentarem os resultados específicos desses estudos, a tabela suplementar indica a vasta gama de experimentos conduzidos, variando em autores, anos, número de sujeitos, escalas de avaliação, tarefas e a direção da alteração na atividade cerebral, seja ela aumentada (+) ou diminuída (-) em relação aos grupos controle ou não-psicopatas. Isso demonstra a complexidade e a diversidade das investigações sobre as anomalias cerebrais na psicopatia, que se estendem por diferentes domínios como processamento moral, emocional, de reforço, empatia e processamento de faces.
Referência:
[1] CALDWELL, B. M. et al. Abnormal frontostriatal activity in recently abstinent cocaine users during implicit moral processing. Front Hum Neurosci, v. 9, p. 565, 2015.
[2] CONTRERAS-RODRÍGUEZ, O. et al. Functional Connectivity Bias in the Prefrontal Cortex of Psychopaths. Biol Psychiatry, v. 78, p. 647-55, 2014.
[3] COPE, L. M. et al. Psychopathic traits modulate brain responses to drug cues in incarcerated offenders. Front Hum Neurosci, v. 8, p. 87, 2014.
[4] DECETY, J. et al. Brain response to empathy-eliciting scenarios involving pain in incarcerated individuals with psychopathy. JAMA Psychiatry, v. 70, p. 638-45, 2013.
[5] DECETY, J. et al. Neural processing of dynamic emotional facial expressions in psychopaths. Soc Neurosci, v. 9, p. 36-49, 2014.
[6] DEELEY, Q. et al. Facial emotion processing in criminal psychopathy. Preliminary functional magnetic resonance imaging study. Br J Psychiatry, v. 189, p. 533-9, 2006.
[7] GORDON, H. L. et al. Functional differences among those high and low on a trait measure of psychopathy. Biol Psychiatry, v. 56, p. 516-21, 2004.
[8] GREGORY, S. et al. Punishment and psychopathy: a case-control functional MRI investigation of reinforcement learning in violent antisocial personality disordered men. Lancet Psychiatry, v. 2, p. 153-60, 2015.
[9] HAN, T. et al. Do fearful eyes activate empathy-related brain regions in individuals with callous traits? Soc Cogn Affect Neurosci, v. 7, p. 958-68, 2012.
[10] HARENSKI, C. L. et al. Aberrant neural processing of moral violations in criminal psychopaths. J Abnorm Psychol, v. 119, p. 863-74, 2010.
[11] HARENSKI, C. L. et al. Neural correlates of moral and non-moral emotion in female psychopathy. Front Hum Neurosci, v. 8, p. 741, 2014.
[12] KIEHL, K. A. et al. Limbic abnormalities in affective processing by criminal psychopaths as revealed by functional magnetic resonance imaging. Biol Psychiatry, v. 50, p. 677-84, 2001.
[13] KIEHL, K. A. et al. Temporal lobe abnormalities in semantic processing by criminal psychopaths as revealed by functional magnetic resonance imaging. Psychiatry Res, v. 130, p. 297-312, 2004.
[14] LARSON, C. L. et al. The interplay of attention and emotion: top-down attention modulates amygdala activation in psychopathy. Cogn Affect Behav Neurosci, v. 13, p. 757-70, 2013.
[15] MARSH, A. A. et al. When psychopathy impairs moral judgments: neural responses during judgments about causing fear. Soc Cogn Affect Neurosci, v. 9, p. 3-11, 2014.
[16] MEFFERT, H. et al. Reduced spontaneous but relatively normal deliberate vicarious representations in psychopathy. Brain, v. 136, n. 8, p. 2550-62, 2013.
[17] MIER, D. et al. Reduced embodied simulation in psychopathy. World J Biol Psychiatry, v. 15, p. 479-87, 2014.
[18] MÜLLER, J. L. et al. Abnormalities in emotion processing within cortical and subcortical regions in criminal psychopaths: evidence from a functional magnetic resonance imaging study using pictures with emotional content. Biol Psychiatry, v. 54, p. 152-62, 2003.
[19] MÜLLER, J. L. et al. Disturbed prefrontal and temporal brain function during emotion and cognition interaction in criminal psychopathy. Behav Sci Law, v. 26, p. 131-50, 2008.
[20] OSUMI, T. et al. Amygdala dysfunction attenuates frustration-induced aggression in psychopathic individuals in a non-criminal population. J Affect Disord, v. 142, p. 331-8, 2012.
[21] PUJOL, J. et al. Breakdown in the brain network subserving moral judgment in criminal psychopathy. Soc Cogn Affect Neurosci, v. 7, p. 917-23, 2012.
[22] RILLING, J. K. et al. Neural correlates of social cooperation and non-cooperation as a function of psychopathy. Biol Psychiatry, v. 61, p. 1260-71, 2007.
[23] RODMAN, A. M. et al. Selective Mapping of Psychopathy and Externalizing to Dissociable Circuits for Inhibitory Self-Control. Clin Psychol Sci, v. 4, p. 559-71, 2016.
[24] SADEH, N. et al. Emotion disrupts neural activity during selective attention in psychopathy. Soc Cogn Affect Neurosci, v. 8, p. 235-46, 2013.
[25] SCHULTZ, D. H. et al. Psychopaths Show Enhanced Amygdala Activation during Fear Conditioning. Front Psychol, v. 7, p. 348, 2016.
[26] SOMMER, M. et al. In psychopathic patients emotion attribution modulates activity in outcome-related brain areas. Psychiatry Res, v. 182, p. 88-95, 2010.
[27] YODER, K. J. et al. Amygdala subnuclei connectivity in response to violence reveals unique influences of individual differences in psychopathic traits in a nonforensic sample. Hum Brain Mapp, v. 36, p. 1417-28, 2015a.
[28] YODER, K. J. et al. Neural networks underlying implicit and explicit moral evaluations in psychopathy. Transl Psychiatry, v. 5, p. e625, 2015b.
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito
Neurociência / Biologia / Psicologia / Psicanálise / Genômica
Tel.: +351 939 895 955 / +55 21 999 989 695
contato@cpah.com.br


