Conectando TDAH aos Circuitos Neurais da Atenção: Um Paradigma para Avanços Clínicos

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurodesenvolvimental complexa e heterogênea, com diagnóstico baseado principalmente em relatos subjetivos e observação de sintomas comportamentais. Essa abordagem diagnóstica, no entanto, apresenta limitações significativas, como a dificuldade de correlacionar os comportamentos observados com os processos neurobiológicos subjacentes. A falta de uma nosologia que capture a heterogeneidade cognitiva do transtorno, que vai além dos três subtipos definidos no DSM-5 (desatento, hiperativo/impulsivo e combinado), reflete as inadequações do atual quadro diagnóstico.

Décadas de estudos em humanos e modelos animais, como primatas não humanos, têm buscado entender os mecanismos neurais subjacentes à atenção e outras funções cognitivas. Meta-análises mostram que indivíduos com TDAH apresentam déficits consistentes em funções cognitivas específicas, mas também há uma heterogeneidade substancial entre os domínios identificados. Sete domínios funcionais principais foram implicados no TDAH: atenção seletiva, atenção sustentada, precisão de resposta, flexibilidade cognitiva, memória de trabalho, processamento de informação temporal e inibição de resposta.

A atenção seletiva é um domínio cognitivo crucial no qual o TDAH está implicado e para o qual há um entendimento significativo dos mecanismos neurais subjacentes. A atenção seletiva pode ser direcionada de forma endógena (top-down), baseada em objetivos atuais, ou exógena (bottom-up), acionada por estímulos fisicamente salientes. A evidência de estudos em primatas não humanos sugere que a atenção espacial endógena é controlada por um conjunto de estruturas, incluindo o campo ocular frontal (FEF) no córtex pré-frontal (PFC), a área intraparietal lateral (LIP) e o colículo superior (SC). Acredita-se que o sinal da atenção seletiva endógena seja modulado por neuromoduladores, como a dopamina, enquanto o sistema colinérgico parece contribuir preferencialmente para a atenção exógena.

No entanto, há uma lacuna crítica no conhecimento sobre como os medicamentos para TDAH, como os estimulantes e a atomoxetina, que agem sobre as vias de catecolaminas, produzem efeitos cognitivos específicos. Essa falta de clareza se estende a outros medicamentos comumente prescritos, como os agonistas do receptor alfa-2 e o bupropiona. Essa imprecisão na nosologia e a compreensão incompleta dos mecanismos de ação dos medicamentos resultam em tratamentos menos direcionados e potencialmente com efeitos adversos não reconhecidos a longo prazo.
A pesquisa futura deve adotar uma abordagem interdisciplinar para preencher essa lacuna entre os sintomas comportamentais e os mecanismos neurais. O uso de primatas não humanos como modelos oferece uma excelente oportunidade para investigar diretamente como os circuitos neurais são ativados por diferentes tarefas e como os medicamentos para TDAH afetam a sinalização neural nessas áreas. Ao utilizar tarefas cognitivas padronizadas em ambas as espécies, pesquisadores clínicos e básicos podem alinhar seus achados, o que pode levar a uma classificação mais precisa do TDAH com base em circuitos neurobiológicos específicos. Essa abordagem pode permitir o desenvolvimento de tratamentos mais seletivos e personalizados, reduzindo efeitos colaterais e melhorando a eficácia terapêutica para populações específicas de indivíduos com TDAH.

Referência:
Mueller, A., Hong, D. S., Shepard, S., & Moore, T. (2017). Linking ADHD to the Neural Circuitry of Attention. Trends in Cognitive Sciences, 21(6), 474-488. https://doi.org/10.1016/j.tics.2017.03.009.

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