Artigo NewsLab: Dr. Vinícius Carlesso
A cardiomiopatia não compactada é uma condição cardíaca rara caracterizada por um desenvolvimento anormal das paredes dos ventrículos (as câmaras inferiores do coração). As paredes apresentam espessura aumentada e um padrão irregular de fibras musculares, o que pode comprometer a função do coração, dificultar o bombeamento de sangue e aumentar o risco de arritmias.
Apesar da doença apresentar sintomas como palpitações, insuficiência cardíaca, arritmias e até tromboembolismo, também há casos em que é assintomática, dificultando o diagnóstico precoce e pedindo um maior esforço para identificação do problema.
Estudo de caso
Um exemplo clínico destacado no estudo “Cardiomiopatia não compactada: doença do nó sinusal como manifestação inicial tratada com marcapasso” foi o de uma paciente de 35 anos, sem comorbidades prévias, que apresentou síncope e palpitações. Após um episódio de bradicardia identificado em um exame físico, ela foi encaminhada ao Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
Exames realizados
O eletrocardiograma inicial revelou ritmo juncional com frequência de 38 bpm, levando à internação para investigação. Exames complementares, como ecocardiograma, apontaram prolapso mitral e alterações discretas nas válvulas. Já o Holter registrou ritmo juncional e pausas sinusais.
A ressonância magnética confirmou a presença de espessura reduzida do miocárdio e padrão de trabeculação característico da cardiomiopatia não compactada, com função sistólica preservada. Diante do quadro, optou-se pela implantação de um marcapasso definitivo, o que estabilizou a condição da paciente.
Após o procedimento, a paciente recebeu alta sem sintomas e com retorno ambulatorial programado, evidenciando a importância do diagnóstico preciso e do tratamento adequado para a melhora da qualidade de vida.
A importância de um diagnóstico minucioso
Esse caso, analisado pelo estudo, reforça a relevância de investigação minuciosa em pacientes com sintomas cardíacos, especialmente quando há sinais sugestivos de condições raras como a cardiomiopatia não compactada.
As análises decorrentes do caso
A prevalência da cardiomiopatia não compactada (CN) em adultos ainda é incerta, mas avanços nos exames de imagem, como ecocardiografia e ressonância magnética cardíaca (RMC), têm aumentado sua detecção. Estudos indicam uma prevalência de aproximadamente 1:500 em determinados contextos, embora faltem critérios diagnósticos universais. A CN pode levar a arritmias graves, insuficiência cardíaca e outras complicações, mas também pode permanecer assintomática.
Arritmias são manifestações frequentes em pacientes com CN. Em um estudo com 17 adultos, quase metade apresentou arritmias, incluindo fibrilação atrial e taquicardia ventricular, e 88% dos eletrocardiogramas mostraram anormalidades, como bloqueios de ramo e alterações do segmento ST.
Estudos também sugerem que a fibrose progressiva do miocárdio na CN pode afetar a condução elétrica, resultando em disfunções como a DNS. Além disso, mutações genéticas, como no gene HCN4, foram associadas tanto à CN quanto à bradicardia sinusal, indicando uma possível ligação entre ambas as condições.
Para diagnóstico de CN, especialistas recomendam critérios quantitativos e características associadas, como histórico familiar, complicações relacionadas ou mutações genéticas específicas. No caso relatado, os achados clínicos e de imagem foram determinantes para a condução do tratamento.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
CARLESSO, Vinícius; FALSONI, Manoela; OLIVEIRA, Fredric; MAURÍCIO, Vitória; MATEOS, Juan. Cardiomiopatia não compactada:: doença do nó sinusal como manifestação inicial tratada com marcapasso. RELAMPA, [S. l.], p. 1-3, 28 fev. 2018. DOI 10.24207/1983-5558v31.2-008. Disponível em: https://acrobat.adobe.com/id/urn:aaid:sc:VA6C2:7e89056e-09e9-4a8c-9eb1-53dfac871e81. Acesso em: 23 jan. 2025.