Biomarcador sanguíneo melhora prognóstico precoce de lesão cerebral após parada cardíaca

Exame de sangue com neurofilamento leve amplia a avaliação neurológica nas primeiras horas após a reanimação e reforça o papel do laboratório na medicina intensiva

Biomarcador sanguíneo melhora prognóstico precoce de lesão cerebral após parada cardíaca ao permitir uma estimativa mais objetiva da gravidade do dano neurológico ainda nas primeiras 24 horas após o evento. Evidências recentes mostram que a dosagem do neurofilamento leve (NFL), associada a outros marcadores séricos, pode apoiar decisões clínicas em pacientes inconscientes internados em unidades de terapia intensiva, um dos cenários mais desafiadores da medicina hospitalar.

Após uma parada cardíaca, mesmo com o retorno da circulação espontânea, o cérebro permanece altamente vulnerável à hipóxia e à reperfusão. A avaliação neurológica tradicional, baseada em exame clínico, eletroencefalograma e métodos de imagem, pode ser limitada nas fases iniciais, especialmente em pacientes sedados ou sob controle de temperatura. Nesse contexto, biomarcadores sanguíneos emergem como ferramentas complementares para estimar o grau de lesão cerebral de forma mais precoce e padronizada.

Neurofilamento leve se destaca entre os biomarcadores avaliados

Estudos multicêntricos recentes compararam o desempenho de diferentes biomarcadores séricos em pacientes reanimados após parada cardíaca. Entre eles, o neurofilamento leve apresentou a melhor correlação com o desfecho neurológico em médio prazo. O NFL é uma proteína estrutural dos axônios neuronais e sua liberação na corrente sanguínea reflete dano neuronal direto.

A análise seriada do NFL demonstrou alta capacidade de discriminar pacientes com lesão cerebral grave daqueles com potencial de recuperação neurológica, já nas primeiras 24 horas após a admissão na UTI. Em avaliações de seguimento, níveis elevados do biomarcador estiveram associados a pior prognóstico neurológico em seis meses, com desempenho superior aos marcadores tradicionalmente utilizados na prática clínica.

Limitações dos marcadores clássicos e avanço analítico

Biomarcadores como a enolase neurônio específica (NSE) e a proteína S100B, amplamente conhecidos em neurologia clínica, também foram avaliados. Embora apresentem utilidade histórica, esses marcadores mostraram variabilidade significativa, interferência analítica e menor precisão prognóstica quando comparados ao NFL.

Outro marcador que demonstrou bom desempenho foi a proteína glial fibrilar ácida (GFAP), relacionada à lesão de astrócitos. A combinação de NFL e GFAP ampliou a capacidade preditiva, sugerindo que painéis multimarcadores podem oferecer informações mais robustas do que testes isolados.

Implicações para o laboratório clínico e para a UTI

A incorporação de biomarcadores como o neurofilamento leve reforça o papel do laboratório clínico na tomada de decisão em terapia intensiva. A possibilidade de obter informações prognósticas objetivas a partir de amostras sanguíneas contribui para a estratificação de risco, planejamento terapêutico e comunicação com familiares em momentos críticos.

Do ponto de vista laboratorial, o avanço também levanta discussões importantes sobre padronização analítica, validação de métodos, definição de pontos de corte e interpretação integrada com dados clínicos e neurofisiológicos. A utilização desses biomarcadores deve ocorrer de forma complementar, nunca isolada, respeitando protocolos clínicos e princípios éticos no cuidado ao paciente crítico.

Diagnóstico laboratorial como suporte à decisão clínica

A aplicação clínica de biomarcadores sanguíneos para avaliação de lesão cerebral após parada cardíaca representa um avanço consistente na medicina diagnóstica. Ao oferecer dados precoces, reprodutíveis e quantificáveis, o laboratório amplia sua contribuição para o manejo de pacientes graves, fortalecendo a integração entre diagnóstico, clínica e prognóstico.

À medida que esses testes se tornam mais acessíveis e validados, a tendência é que o diagnóstico laboratorial assuma papel ainda mais ativo na avaliação neurológica precoce, apoiando decisões médicas fundamentadas em evidências e dados objetivos.