As Implicações Clínicas de uma Abordagem Dimensional para o TDAH Adulto e suas Comorbidades

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em adultos é um transtorno psiquiátrico prevalente e frequentemente associado a comorbidades que complicam seu reconhecimento e tratamento. A prevalência do TDAH na população adulta geral é de 2,5% e o transtorno está ligado a um ônus pessoal e social considerável. Uma característica notável do TDAH em adultos é sua apresentação clínica mais heterogênea, que inclui uma ampla gama de disfunções emocionais e prejuízos funcionais que vão além dos sintomas motores típicos observados em crianças.
As comorbidades psiquiátricas mais comuns em adultos com TDAH incluem transtornos de humor e ansiedade, transtornos por uso de substâncias (TUS) e transtornos de personalidade. O TDAH e essas comorbidades compartilham fortes vínculos familiares e semelhanças neurobiológicas, com estudos implicando anormalidades na atividade e no volume do lobo frontal e no sinal de dopamina (DA) e norepinefrina (NE) em ambos. Essa sobreposição de sintomas apresenta barreiras significativas para o diagnóstico e o tratamento. A disfunção emocional, por exemplo, é um atributo distinto da psicopatologia do TDAH em adultos, mas pode ser erroneamente diagnosticada como um transtorno de humor. Da mesma forma, os sintomas do TDAH podem ser mascarados pelo uso de substâncias.

O ônus do TDAH em adultos se estende a diversas áreas da vida, incluindo prejuízos psicossociais e funcionais graves. O transtorno está associado a disfunção da atenção, déficits neuropsicológicos (como na inibição e na memória) e desregulação emocional. O TDAH também tem consequências negativas para a autoestima e a qualidade das relações interpessoais. A nível social, o TDAH está consistentemente ligado a um risco aumentado de desemprego e criminalidade. Pessoas com TDAH na Dinamarca, por exemplo, têm uma expectativa de vida mais baixa e mais que o dobro do risco de morte em comparação com adultos sem o transtorno, principalmente devido a acidentes e comportamentos de risco.
Diante da complexidade e da alta taxa de comorbidades, propõe-se uma abordagem dimensional para o diagnóstico e tratamento do TDAH. Em geral, as diretrizes recomendam que o transtorno mais incapacitante seja tratado primeiro. Em pacientes com transtorno bipolar, a estabilização do humor é um pré-requisito para o tratamento eficaz do TDAH. Da mesma forma, no transtorno por uso de substâncias, é recomendável que o abuso de substâncias seja estabilizado antes de se iniciar o tratamento do TDAH.

O tratamento do TDAH, que inclui opções farmacológicas e não farmacológicas, visa à redução dos sintomas, à melhora do funcionamento diário e ao aumento da qualidade de vida. O tratamento precoce e otimizado do TDAH pode mudar a trajetória da morbidade psiquiátrica ao prevenir o surgimento de transtornos de humor e ansiedade ou TUS. Estudos longitudinais demonstraram que o tratamento com estimulantes na juventude pode levar a um risco significativamente menor de desenvolver transtornos depressivos e de ansiedade, além de reduzir o risco de tabagismo e abuso de substâncias na vida adulta.

Em conclusão, o TDAH em adultos é um transtorno complexo e com alta heterogeneidade, frequentemente em comorbidade com outras patologias psiquiátricas. É subdiagnosticado e subtratado, resultando em um ônus pessoal e social considerável. Uma abordagem dimensional para o diagnóstico, juntamente com tratamentos multimodais e personalizados, pode melhorar significativamente os resultados. O tratamento precoce pode atuar como um fator protetor, alterando a trajetória de morbidade psiquiátrica na vida adulta.

Referência:
Katzman, M. A., Bilkey, T. S., Chokka, P. R., Fallu, A., & Klassen, L. J. (2017). Adult ADHD and comorbid disorders: clinical implications of a dimensional approach. BMC Psychiatry, 17(1), 302. https://doi.org/10.1186/s12888-017-1463-3.

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