O Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) são transtornos do neurodesenvolvimento com uma herdabilidade substancial, mas a compreensão de sua arquitetura genética tem sido um desafio. Estudos anteriores, principalmente com gêmeos, já haviam sugerido uma sobreposição genética entre os dois transtornos, mas a falta de grandes coortes para estudos de sequenciamento genético em TDAH limitava a investigação em nível de variantes raras. Um estudo genômico recente abordou essa lacuna, analisando sequências de exoma de uma grande coorte dinamarquesa para investigar a carga de variantes genéticas raras e a sua relação com o TEA e o TDAH.
A pesquisa utilizou amostras de aproximadamente 8.000 crianças diagnosticadas com TEA e/ou TDAH, e 5.000 indivíduos no grupo de controle, sem esses diagnósticos. O estudo focou em variantes raras que causam a interrupção da proteína (PTVs) em genes que são intolerantes à perda de função (geneticamente “restritos”). Os resultados mostraram que a carga de PTVs raras restritas (crPTVs) era significativamente maior em casos de TEA e TDAH em comparação com os controles. Além disso, a carga de crPTVs foi similar entre os indivíduos com TEA e os com TDAH, o que sugeriu uma sobreposição genética entre os dois transtornos.
Essa similaridade motivou uma análise conjunta, combinando todas as amostras de TEA e TDAH para aumentar o poder estatístico na descoberta de novos genes de risco. O gene MAP1A (proteína 1A associada a microtúbulos) foi identificado como um novo gene com significância em todo o exoma, conferindo risco para transtornos psiquiátricos na infância. O gene MAP1A é altamente expresso no cérebro e desempenha um papel crucial na organização dos microtúbulos neuronais. A análise também detectou outros genes previamente associados a transtornos do desenvolvimento, como ANKRD11, ligado à deficiência intelectual, e SCN2A, associado ao TEA.
O estudo corrobora descobertas anteriores de que o TEA e o TDAH estão geneticamente correlacionados e que traços de ambos os transtornos coocorrem em amostras populacionais. A descoberta de uma carga semelhante de variantes raras em genes semelhantes para ambos os transtornos reforça a hipótese de uma origem neurobiológica comum ou sobreposta. Essa constatação tem implicações importantes para a pesquisa futura, sugerindo que estudos de variantes raras entre diferentes transtornos podem aumentar a capacidade de descoberta de genes e a compreensão das bases genéticas de transtornos neuropsiquiátricos complexos.
Referência:
Satterstrom, F. K. et al. Autism spectrum disorder (ASD) and attention-deficit/hyperactivity disorder (ADHD) have a similar burden of rare protein-truncating variants. Nature Neuroscience, v. 22, n. 12, p. 1961–1965, 2019. doi: 10.1038/s41593-019-0527-8.
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