A ciência confirma: o início da vida deixa marcas que se estendem até a puberdade
Um novo estudo sul coreano, publicado em 2025 no JAMA Network Open, traz evidências robustas sobre um tema sensível para pediatras, endocrinologistas e profissionais de saúde pública: a relação entre o tipo de alimentação nos primeiros meses de vida e o risco de puberdade precoce central. A pesquisa analisou 322 mil crianças, um volume de dados incomum na literatura, oferecendo um olhar estatisticamente sólido sobre um fenômeno que vem chamando a atenção em vários países.
O desenho do estudo e o que torna esses dados tão relevantes
A equipe de pesquisadores acompanhou crianças nascidas entre 2007 e 2010, utilizando registros de saúde nacionais da Coreia do Sul. As rotinas de amamentação nos primeiros quatro a seis meses foram classificadas em três grupos: exclusivamente amamentadas (46%), alimentadas apenas com fórmula infantil (34,9%) e alimentação mista (19,1%).
O desfecho avaliado foi a puberdade precoce central, condição caracterizada pela ativação prematura do eixo hipotálamo pituitária gonadal, levando ao aparecimento de sinais puberais antes da idade esperada. O diagnóstico incluiu uso de agonistas de GnRH e codificações clínicas específicas.
Os resultados: o que a alimentação infantil tem a ver com o relógio hormonal
Ao comparar os três grupos, os pesquisadores observaram um padrão claro. Crianças amamentadas exclusivamente apresentaram o menor risco de puberdade precoce central. Aquelas que receberam somente fórmula infantil tiveram risco significativamente maior e o grupo de alimentação mista também mostrou aumento consistente da taxa de CPP.
Segundo o estudo, esse efeito é observado tanto em meninas como em meninos, embora com maior magnitude no sexo feminino. A pesquisa ainda investigou a influência da adiposidade pré puberal e demonstrou que o peso corporal antes da puberdade explica parte dessa relação, mas não totalmente. Isso significa que o impacto do aleitamento materno vai além do controle de peso.
O que pode explicar essa associação
A literatura aponta diversos mecanismos possíveis para justificar o efeito protetor da amamentação. Entre eles, o perfil hormonal mais adequado nos primeiros meses de vida, a composição nutricional ideal do leite materno, o desenvolvimento metabólico mais equilibrado e o menor risco de sobrepeso na infância.
O estudo sul coreano reforça a hipótese de que a alimentação inicial influencia a regulação do eixo hormonal que controla o início da puberdade. Embora não exista um único fator determinante, a consistência dos dados amplia a compreensão sobre a importância da nutrição precoce no desenvolvimento humano.
Por que isso importa tanto para a saúde pública
A puberdade precoce está associada a consequências físicas e emocionais, como maior risco de obesidade, problemas ósseos, impactos psicossociais e, em alguns casos, maior probabilidade de desenvolver doenças ao longo da vida adulta. Por isso, compreender fatores que reduzem esse risco é fundamental para orientar políticas públicas, aconselhamento familiar e práticas clínicas.
Para profissionais de saúde, o estudo oferece evidências de alto peso sobre a importância da promoção do aleitamento materno exclusivo nos primeiros meses de vida, não apenas como medida nutricional, mas como estratégia de saúde preventiva de longo prazo.
Perspectivas futuras e caminhos para novas pesquisas
Embora abrangente, o estudo também abre portas para investigações sobre variações genéticas, exposições ambientais e padrões de crescimento infantil que possam interagir com a alimentação precoce. A união de diversos fatores biológicos e comportamentais provavelmente compõe a base da maturação puberal.
A ciência avança e reforça que as primeiras escolhas nutricionais têm impacto profundo no curso do desenvolvimento humano. O aleitamento materno, mais uma vez, se mostra uma ação simples, natural e cientificamente poderosa.
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