Por: Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues
Introdução
A síndrome de Pica é um comportamento caracterizado pela ingestão compulsiva de substâncias não nutritivas, como terra, argila, gelo, entre outros materiais inusitados. Este distúrbio alimentar, embora frequentemente não apresente risco imediato de vida, pode levar a complicações graves devido ao consumo de materiais potencialmente tóxicos ou indigestíveis. A compreensão das causas e dos mecanismos subjacentes à Pica é crucial para o desenvolvimento de tratamentos eficazes e a melhoria da qualidade de vida dos afetados.
Definição e Histórico
O termo “Pica” origina-se do latim, referindo-se ao pássaro pega, conhecido por comer praticamente qualquer coisa. Historicamente, a Pica foi associada a diversas condições, incluindo a anemia, desde os tempos de Hipócrates. Contudo, a relação causal entre a deficiência de ferro e o comportamento de Pica permanece inconclusiva. A Pica é mais frequentemente observada em crianças pequenas, especialmente entre os 2 e 3 anos de idade, e sua prevalência diminui com o aumento da idade. Em adultos, a Pica é mais comum entre indivíduos com deficiência intelectual (Rodrigues, 2022).
Manifestação Clínica
A apresentação clínica da Pica é altamente variável, dependendo das substâncias ingeridas. As manifestações físicas podem incluir envenenamento, infecções, obstruções intestinais, ulcerações, e abrasões dentárias graves. Essas complicações resultam do consumo repetido de materiais não nutritivos ao longo de um mês ou mais, e são suficientes para justificar a atenção médica (Rodrigues, 2022).
Fatores Nutricionais e Psicológicos
Há evidências que sugerem que a Pica pode estar relacionada a deficiências nutricionais, particularmente de ferro e zinco. No entanto, os efeitos nutricionais diretos da Pica ainda não são totalmente compreendidos. Além dos fatores nutricionais, a Pica pode ser atribuída a perturbações emocionais ou psicogênicas. Intervenções psicoterapêuticas e aconselhamento são frequentemente recomendados para tratar essas causas subjacentes (Rodrigues, 2022).
Abordagens de Tratamento
O tratamento da Pica é multifacetado e deve envolver uma equipe multidisciplinar. Intervenções nutricionais, como a suplementação de ferro e zinco, são comuns e podem reduzir a compulsão por ingerir materiais não nutritivos. Abordagens comportamentais e farmacológicas, incluindo o uso de inibidores seletivos da recaptação de serotonina (SSRIs), têm mostrado eficácia em alguns casos. Além disso, é essencial identificar e tratar quaisquer deficiências nutricionais e condições médicas associadas, como anemia ou obstrução intestinal (Rodrigues, 2022).
Conclusão
A síndrome de Pica é um distúrbio complexo que exige uma abordagem integrada para seu manejo eficaz. Médicos, nutricionistas e psicólogos devem trabalhar juntos para desenvolver estratégias de tratamento personalizadas, focando tanto nos aspectos nutricionais quanto nos psicológicos do distúrbio. A compreensão aprofundada das causas e manifestações da Pica é essencial para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e minimizar os riscos associados a este comportamento.
Referências:
Rodrigues, F. A. (2022). Alotriofagia ou síndrome de pica. Ciencia Latina Revista Científica Multidisciplinar, 6(1), 3406-3411. https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v6i1.1738
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