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A Intrincada Relação entre o Alto Quociente Intelectual, Desempenho Acadêmico e Intensidade Emocional

A Intrincada Relação entre o Alto Quociente Intelectual, Desempenho Acadêmico e Intensidade Emocional

A compreensão da superdotação e sua manifestação no ambiente acadêmico tem sido objeto de estudo aprofundado, revelando que a relação entre alto quociente intelectual (QI) e desempenho escolar está longe de ser linear. Tradicionalmente, esperava-se que um QI elevado garantisse um percurso acadêmico de sucesso. No entanto, evidências empíricas e neurobiológicas indicam que indivíduos com superdotação profunda (QI > 145) frequentemente apresentam desempenho acadêmico abaixo do esperado. Esse paradoxo é atribuído a uma arquitetura neural peculiar que favorece alta intensidade sináptica tanto em redes cognitivas quanto emocionais, particularmente no sistema límbico.

A neurociência tem demonstrado que essa característica neurobiológica envolve uma hiperconectividade funcional e estrutural entre regiões cerebrais chave, como o córtex pré-frontal dorsolateral, o giro cingulado anterior e estruturas do sistema límbico, como a amígdala e o hipocampo. Essa intensa rede de comunicação neural, embora sustente uma capacidade superior para raciocínio abstrato e resolução de problemas complexos, também confere uma acentuada vulnerabilidade emocional. A intensificação da atividade nos canais iônicos de sódio e potássio exacerba essa condição, resultando em processamento informacional rápido e eficiente, mas também em uma amplificação das respostas emocionais, tornando o indivíduo mais sensível a estímulos afetivos.

Nesse contexto, a motivação intrínseca emerge como um fator crítico para o sucesso acadêmico, muitas vezes mais relevante do que o próprio QI. A motivação, modulada pelas vias dopaminérgicas mesolímbicas, depende da afinidade subjetiva com o objeto de estudo. Sem interesse intrínseco, o sistema de recompensa cerebral pode não ser ativado o suficiente para sustentar o esforço necessário para o desempenho acadêmico. Isso explica por que 44,4% dos participantes de uma pesquisa com superdotados relataram que ser um “bom aluno com boas notas” dependia da matéria. Para indivíduos com alta intensidade sináptica e amplificação emocional, o desinteresse por uma matéria pode levar a uma aversão profunda, dificultando o engajamento.

Em contrapartida, indivíduos com QI entre 130 e 140 pontos frequentemente exibem maior constância acadêmica. Nesses casos, a integração entre regiões do córtex pré-frontal dorsolateral, orbitofrontal e giro do cíngulo anterior apresenta maior estabilidade, permitindo um equilíbrio entre alta capacidade cognitiva e regulação emocional adequada. A eficiência sináptica nessas regiões favorece a manutenção da atenção e da memória de trabalho, elementos cruciais para o desempenho acadêmico, mesmo em condições de baixo interesse motivacional.

A pesquisa também destaca perfis de dupla excepcionalidade, onde a superdotação coexiste com outros transtornos, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Indivíduos com TEA associado à superdotação podem apresentar hiperfoco funcional, resultando em uma capacidade de concentração intensa e sustentada em temas de interesse. Por outro lado, a superdotação associada ao TDAH frequentemente resulta em desempenho acadêmico prejudicado devido a déficits de memória de trabalho e desregulação atencional, associados à insuficiência dopaminérgica no córtex pré-frontal e no estriado ventral.

Os resultados de uma enquete com membros do grupo “Gifted Debate” corroboram essas observações. Apesar de 55,6% dos participantes superdotados possuírem QI de 146 ou mais e 77,8% terem alcançado pós-graduação ou níveis superiores, uma parcela significativa (55,5%) relatou ter abandonado a faculdade. É notável que a maioria dos casos de abandono ocorreu em indivíduos com QI superior a 146 pontos. Isso sugere que as barreiras não são intelectuais, mas sim relacionadas à forma como esses indivíduos interagem com o sistema educacional e à sua necessidade de ambientes que correspondam à sua profundidade e desafios intrínsecos. Muitos podem retornar aos estudos em um formato ou área mais alinhados com seus interesses e estilo de aprendizagem, o que os leva a alcançar os mais altos níveis de escolaridade.

Do ponto de vista neuroquímico, neurotransmissores como dopamina, serotonina e glutamato desempenham papéis cruciais no desempenho acadêmico, influenciando a motivação, o humor, o controle da impulsividade e a plasticidade sináptica fundamental para a aprendizagem e consolidação da memória. A perspectiva genética revela que a inteligência e a regulação emocional são fenótipos poligênicos complexos. Variantes genéticas em genes como

 

 

CHRM2, SNAP25, BDNF e COMT modulam a eficiência sináptica, a plasticidade neuronal e a estrutura das redes neurais subjacentes ao funcionamento cognitivo e emocional.

Em suma, a performance escolar é o resultado de uma integração complexa entre capacidade cognitiva, funcionamento executivo, estabilidade emocional e motivação, todos modulados por mecanismos neurobiológicos e genéticos complexos. Uma abordagem holística e personalizada é imprescindível para o desenvolvimento pleno de pessoas com altas habilidades , reconhecendo e acomodando suas singularidades neurobiológicas e emocionais.

Referência:

DE ABREU AGRELA RODRIGUES, Fabiano; DA SILVA NUNES, Flávio; PEREIRA DA SILVA, Adriel. A Relação Intrincada entre Alto Quociente Intelectual, Desempenho Acadêmico e Intensidade Emocional: Uma Análise Neurocientífica e Genômica Multidimensional. Revista Internacional de Ciencias Sociales, v. 4, n. 2, p. e746, 2025.

 

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