A Intersecção entre Transtornos do Neurodesenvolvimento e Obesidade em Adultos: Uma Revisão Sistemática

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) são condições do neurodesenvolvimento que podem influenciar comportamentos relacionados à alimentação, exercícios e imagem corporal, com potencial para impactar os resultados do tratamento da obesidade. Pacientes com obesidade que também apresentam TEA e/ou TDAH podem ter experiências e características distintas em comparação com pacientes sem esses transtornos.

Um estudo de revisão de escopo recente analisou 31 trabalhos, com um total de 1.027.773 participantes, para mapear a literatura existente sobre a relação entre TEA, TDAH e obesidade em adultos. A pesquisa revelou uma notável lacuna na literatura sobre TEA e obesidade. Apenas dois relatos de caso foram encontrados, os quais descreveram o uso bem-sucedido de medicamentos para perda de peso em pacientes autistas com obesidade. Não foram identificados estudos que explorassem a prevalência de TEA em pacientes com obesidade, as experiências de pacientes autistas, seus cuidadores ou clínicos, ou as diferenças clínicas que esses pacientes podem apresentar.

Para o TDAH, no entanto, a literatura é mais extensa. Oito estudos de prevalência sugerem que o TDAH está super-representado em populações com obesidade, independentemente da presença de transtorno de compulsão alimentar. Um estudo observou uma prevalência de 20,6% de TDAH em pacientes com obesidade, em comparação com 6,8% em indivíduos sem obesidade. Outro estudo constatou que o TDAH era mais prevalente na obesidade severa do que na obesidade menos grave.

Dezenove estudos analisaram os perfis clínicos e observaram que pacientes com obesidade e TDAH apresentavam características únicas em comparação com seus pares sem TDAH. Eles tendem a ter um status socioeconômico mais baixo, pior qualidade de vida relacionada à saúde e maiores níveis de impulsividade e neuroticismo. Além disso, exibiram menor amabilidade, conscienciosidade e cooperatividade. A psicopatologia também era mais prevalente, com maiores taxas de sintomas depressivos e de ansiedade, desregulação emocional, alexitimia e uso problemático de álcool. Pacientes com TDAH também apresentaram comportamentos alimentares problemáticos, incluindo mais sintomas bulímicos, compulsão alimentar, fome, desejos por comida e vício em comida.

No que se refere às respostas ao tratamento, oito estudos avaliaram os resultados. Os resultados foram mistos. Pacientes com TDAH e obesidade tiveram piores resultados em programas comportamentais de perda de peso e com a farmacoterapia para obesidade. No entanto, um estudo de intervenção demonstrou que a medicação para TDAH, especialmente os psicoestimulantes, resultou em uma perda de peso significativa em pacientes com TDAH e obesidade. Outros estudos indicaram que, após a cirurgia bariátrica, pacientes com TDAH tiveram resultados de peso comparáveis aos de pacientes sem o transtorno, embora tenham experimentado mais complicações pós-operatórias, estadias hospitalares mais longas e menor adesão aos protocolos de acompanhamento.

Em conclusão, a revisão destaca a necessidade urgente de mais pesquisas sobre a intersecção entre autismo e obesidade. Em relação ao TDAH, embora os achados sugiram uma coocorrência frequente com a obesidade, as experiências vividas e as intervenções adaptadas continuam subexploradas.

Referência:
MAKIN, L. et al. Autism, ADHD, and Their Traits in Adults with Obesity: A Scoping Review. Nutrients, 2025, v. 17, n. 787. DOI: 10.3390/nu17050787.

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