A influência da fadiga regulatória e da regulação comportamental na adaptabilidade de estudantes universitários

A problemática do estresse e do burnout acadêmico tem sido objeto de crescente interesse na pesquisa, dada sua significativa influência no desempenho acadêmico e na adaptabilidade de estudantes universitários. Trabalhos anteriores já indicavam que a fadiga regulatória e o estresse acadêmico sustentado podem levar a um estado de exaustão ou esgotamento do ego em ambientes universitários de alto desempenho. Embora a adaptabilidade seja um fenômeno reconhecido no contexto universitário , há uma lacuna no entendimento detalhado da relação entre os níveis preexistentes de regulação pessoal e contextual e a adaptabilidade. Compreender essa dinâmica é crucial, especialmente para estudantes mais vulneráveis ou em risco.

Nesse cenário, um estudo recente investigou a relação entre três variáveis principais: a regulação combinada interna e externa (variável de presságio), a fadiga regulatória (variável de processo procedural) e a adaptabilidade comportamental (variável de processo atitudinal) em estudantes universitários. O objetivo principal foi elucidar as associações e o poder preditivo entre essas variáveis, bem como suas implicações para a avaliação e intervenção no apoio psiquiátrico e psicológico a essa população.

A Teoria do Comportamento Autorregulado versus Heterorregulado (SR-ER), que serve como modelo conceitual de presságio, postula três princípios fundamentais. Primeiramente, a regulação motivada por fatores internos é denominada autorregulação pessoal, enquanto a regulação influenciada por estímulos ambientais é conhecida como regulação externa ou heterorregulação. Em segundo lugar, tanto a autorregulação quanto a regulação externa podem ocorrer em diferentes níveis: regulatório, não regulatório e disregulatório. Por fim, a combinação desses dois conjuntos de fatores dá origem ao Índice de Regulação Comportamental Interna e Externa Combinada (ICREBR), que varia de 1 a 5 e mede a regulação interna e externa combinada.

Os resultados do estudo demonstraram que o nível de regulação combinada (interna e externa) atua como um preditor significativo da fadiga e da adaptabilidade, assim como a fadiga em relação à adaptabilidade. No nível inferencial, esses efeitos foram corroborados. O modelo mais significativo revelou o valor mediador da fadiga entre o nível de regulação e a adaptabilidade, com especial relevância para a adaptabilidade reformulada. A regulação combinada (interna e externa) previu negativamente a fadiga regulatória e positivamente a adaptabilidade comportamental, tanto em sua formulação clássica quanto na reformulada. A pesquisa também revelou que a não regulação e a disregulação comportamental estão associadas a níveis mais elevados de fadiga regulatória.

A fadiga regulatória, por sua vez, demonstrou estar positivamente associada e prever negativamente os níveis de adaptabilidade, com maior destaque para a adaptabilidade reformulada. Essa relação é crucial, pois sugere que a fadiga regulatória atua como um mecanismo plausível para a perda da capacidade regulatória, impulsionando a transição de um comportamento autorregulado para a não regulação e, posteriormente, para a disregulação. Esse processo, em última instância, explica os níveis de comportamento adaptativo, não adaptativo e mal-adaptativo.

As implicações desses achados são notáveis para os campos da educação e da saúde. A determinação dos níveis de regulação combinada de um indivíduo pode auxiliar na compreensão de quais fatores regulatórios pessoais e ambientais representam riscos ou fatores protetores significativos para a saúde mental do indivíduo. Um alto nível de regulação combinada indica um alto nível de regulação pessoal e um ambiente que auxilia na autorregulação (fator protetor), enquanto um baixo nível sugere um nível baixo ou disregulatório de autorregulação e um ambiente disregulatório (fator de risco). Além disso, essa compreensão pode ajudar a prever o grau de fadiga regulatória e burnout, que, por sua vez, podem levar a comportamentos malajustados ou disfuncionais, como observado no estresse pós-traumático. É fundamental compreender a dinâmica da mudança regulatória, tanto em doenças crônicas quanto em dificuldades de aprendizagem, onde a fadiga regulatória pode levar a um menor limiar regulatório e maior perda da capacidade de comportamentos adaptativos.

Apesar da relevância dos resultados, o estudo possui limitações, principalmente a natureza da amostra, composta exclusivamente por estudantes universitários de 18 a 25 anos, o que restringe a generalização dos achados para outras populações. Pesquisas futuras devem abranger amostras mais diversas, incluindo populações clínicas e subclínicas com psicopatologias específicas, a fim de verificar a aplicabilidade dos processos propostos em diferentes contextos.

Referência:

De La Fuente, J., Ochoa, E. U., Kauffman, D. F., & Karagiannopoulou, E. (2025). Effect of Combined Regulation Behaviour Index (CRBI) on Regulatory Fatigue and Behavioural Adaptability (classical and reformulated) in the university context.

 

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