A Heterogeneidade do TDAH: Causas, Mecanismos e a Busca por Tratamentos Mais Precisos

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos neurodesenvolvimentais mais comuns em crianças, afetando de 8% a 12% da população mundial infantil. O TDAH persiste na idade adulta em até 65% dos casos, aumentando significativamente os riscos de outros transtornos psiquiátricos, fracasso educacional e profissional, acidentes, criminalidade, e problemas sociais. A complexidade e a diversidade do TDAH são evidentes em sua etiologia multifatorial, na variedade de sintomas clínicos, nos padrões de prejuízos neurocognitivos, nas trajetórias de desenvolvimento e nas anomalias cerebrais estruturais e funcionais.

A etiologia do TDAH é heterogênea e envolve uma forte predisposição genética, com estimativas de herdabilidade de 60% a 80%. Estudos genéticos moleculares identificaram genes candidatos em vias dopaminérgicas, noradrenérgicas e serotoninérgicas, como o DRD4, DRD5 e DAT1. No entanto, os resultados são inconsistentes, com cada gene contribuindo apenas com uma pequena parcela do risco total de TDAH. A heterogeneidade genética é ainda mais complexa pelo fato de que as influências genéticas podem mudar ao longo da vida, com alguns genes sendo mais relevantes na infância e outros na idade adulta.

Fatores de risco ambientais também estão implicados na etiologia do TDAH. Riscos pré-natais, como o consumo materno de álcool e tabaco, estresse durante a gravidez, baixo peso ao nascer e prematuridade, são frequentemente associados ao TDAH. A exposição a toxinas ambientais, como organofosforados, bifenilos policlorados e chumbo, também é considerada um fator de risco. A interação entre genes e ambiente é complexa; por exemplo, o gene DAT1 pode interagir com o tabagismo materno para aumentar o risco de TDAH.

Os prejuízos neurocognitivos são uma característica fundamental do TDAH, afetando domínios como atenção sustentada, função executiva, memória de trabalho e autorregulação. Modelos teóricos, como o modelo de autorregulação de Barkley, propuseram que o TDAH resulta de um déficit primário na inibição comportamental. Já o modelo de desenvolvimento de Halperin e Schulz sugere que o início do TDAH na infância está associado a disfunções em estruturas subcorticais, enquanto a remissão dos sintomas na vida adulta pode estar ligada ao desenvolvimento do córtex pré-frontal. No entanto, nenhum desses modelos explica completamente a heterogeneidade do TDAH.

A heterogeneidade do TDAH se manifesta na diversidade de respostas ao tratamento. Embora os medicamentos estimulantes sejam amplamente prescritos, as respostas dos pacientes variam em termos de tipo de medicamento, dosagem, tolerabilidade e perfil de efeitos adversos. Fatores como comorbidades psiquiátricas, a gravidade dos sintomas e a variabilidade individual na liberação de dopamina podem contribuir para essa heterogeneidade.

Para superar os desafios diagnósticos e terapêuticos do TDAH, é crucial focar na investigação de subgrupos biologicamente mais homogêneos. Por exemplo, estudos em irmãos não afetados de pacientes com TDAH sugerem que algumas anomalias cerebrais e comportamentais têm um padrão hereditário, indicando que o TDAH familiar pode ser um subgrupo mais homogêneo. Pesquisas futuras devem direcionar recursos para entender o impacto de fatores de risco etiológicos e suas interações com mecanismos neurais, o que pode facilitar o desenvolvimento de intervenções mais direcionadas e personalizadas.

Referência:
Luo, Y., Weibman, D., Halperin, J. M., & Li, X. (2019). A Review of Heterogeneity in Attention Deficit/Hyperactivity Disorder (ADHD). Frontiers in Human Neuroscience, 13, 42. https://doi.org/10.3389/fnhum.2019.00042.

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