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A Gastrosquise Complexa e o Potencial da Cirurgia Fetal Minimamente Invasiva

A Gastrosquise Complexa e o Potencial da Cirurgia Fetal Minimamente Invasiva

A gastrosquise, um defeito congênito da parede abdominal caracterizado pela herniação das alças intestinais fetais para a cavidade amniótica, é tradicionalmente tratada por reparo cirúrgico pós-natal. No entanto, casos complexos de gastrosquise, que podem envolver complicações intestinais como atresia, perfuração, isquemia, necrose ou volvo, estão associados a resultados perinatais adversos. Diante disso, a cirurgia fetal, especialmente por meio de técnicas fetoscópicas minimamente invasivas, surge como uma intervenção promissora, particularmente para esses casos complexos, embora ainda em fase de pesquisa para estabelecer sua segurança e eficácia em comparação com o tratamento pós-natal padrão.

Um recente relato de caso documentou uma técnica fetoscópica para a correção intrauterina de gastrosquise complexa, com desfechos favoráveis. O procedimento foi realizado em um feto de 29 semanas de gestação e envolveu a introdução de um fetoscópio e dois trocateres na cavidade amniótica sob orientação ultrassonográfica. As alças intestinais herniadas foram reposicionadas no abdome fetal e o defeito da parede abdominal foi fechado com sutura contínua. O procedimento foi concluído em 80 minutos, com monitoramento contínuo da vitalidade fetal.

O resultado neonatal foi notável: o recém-nascido, uma menina, nasceu por cesariana às 32 semanas de gestação, pesando 1620 g. A criança demonstrou função gastrointestinal apropriada e recebeu alta hospitalar aos 14 dias de vida, sem a necessidade de intervenções cirúrgicas adicionais. Este caso sugere a viabilidade e segurança do reparo fetoscópico da gastrosquise, resultando em desfechos neonatais positivos, incluindo alta precoce sem cirurgia adicional.

Apesar dos resultados promissores, os autores ressaltam a necessidade de investigações adicionais por meio de ensaios clínicos randomizados para avaliar os benefícios dessa abordagem em comparação com o tratamento pós-natal padrão, especialmente em casos complexos e suspeitos. É fundamental considerar os riscos associados à intervenção fetoscópica, como o parto prematuro e a ruptura prematura de membranas ovulares, e balanceá-los com os potenciais benefícios. Adicionalmente, o momento ideal para a intervenção ainda não está claro, sendo necessárias mais pesquisas para determinar se o timing do procedimento influencia os resultados perinatais, particularmente a função intestinal e a adaptação pós-natal.

Este caso reportado representa o segundo caso documentado de correção intrauterina de gastrosquise, destacando a importância de estudos futuros para avaliar sua viabilidade, segurança e potenciais benefícios em comparação com o tratamento pós-natal convencional. A possibilidade de proteger o intestino de uma exposição prolongada ao ambiente amniótico pode teoricamente mitigar complicações como dismotilidade intestinal e dificuldades de alimentação, o que justifica a continuidade das pesquisas nesta área.

Referência:

Callado, G. Y., Silva e Silva, A., Silva, G. G., Júnior, E. A., Tsujita, A. S., Tomimatsu, W. T., Pereira, R. M. F., Chagas, M. C., Saito, M., & Ianni, C. L. (2025). Fetoscopic Reduction and Closure for Complex Gastroschisis: A Novel Minimally Invasive Prenatal Approach. The Journal of Obstetrics and Gynecology of India. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s13224-025-02187-5

 

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