A Epidemiologia do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade na África: um Problema de Saúde Pública Subestimado

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é o transtorno do neurodesenvolvimento mais comum em crianças e adolescentes, com uma prevalência mundial de 2,2% a 17,8% em idade escolar. O TDAH tem sido associado a uma vasta gama de déficits de desenvolvimento, como dificuldades de aprendizagem e de controle das funções executivas, além de prejuízos globais nas habilidades sociais. No entanto, a magnitude consolidada do TDAH em crianças e adolescentes na África não havia sido sistematicamente revisada. Este estudo, uma revisão sistemática e metanálise, teve como objetivo preencher essa lacuna, estimando a prevalência do transtorno no continente africano e avaliando suas características epidemiológicas.

A metanálise incluiu 12 estudos de prevalência de TDAH conduzidos em diferentes países africanos, como Nigéria, Sudão, Uganda, Congo, Quênia, Egito e Etiópia, entre 2005 e 2017. A prevalência agrupada de TDAH em crianças e adolescentes na África foi de 7,47% (IC 95% 6,00-9,26). Este valor está em consonância com estimativas mundiais semelhantes, como a de 7,2% em uma metanálise de 2010 e 7,1% em outra de 2015. No entanto, excede a estimativa de prevalência global de 5,3% relatada em 2007, possivelmente devido a variações nas metodologias e instrumentos de avaliação utilizados. A prevalência do TDAH variou significativamente entre os países, de 1,49% na Etiópia a 11,75% em Uganda.

As análises de subgrupo revelaram disparidades significativas de gênero. A prevalência do TDAH foi notavelmente maior em meninos (10,60%) do que em meninas (5,28%), resultando em uma proporção de 2,01 meninos para cada menina com o transtorno. Embora essa proporção seja consistente com outros achados mundiais, ela é ligeiramente inferior à de algumas metanálises que reportaram uma proporção de 2,28:1, o que pode sugerir que os meninos com TDAH na África podem estar sendo subdiagnosticados.

A metanálise também investigou a prevalência dos subtipos de TDAH. O tipo predominantemente desatento (TDAH-I) foi o subtipo mais comum, com uma prevalência de 2,95%, seguido pelo tipo hiperativo-impulsivo (TDAH-HI), com 2,77%, e pelo tipo combinado (TDAH-C), com 2,44%. O TDAH-I foi o subtipo mais prevalente tanto em meninos (4,05%) quanto em meninas (2,21%). Esses achados são consistentes com a literatura existente, que sugere que os sintomas de desatenção são mais estáveis e persistem por mais tempo do que os sintomas de hiperatividade-impulsividade, que tendem a diminuir com o tempo.

Em conclusão, este estudo fornece a primeira estimativa consolidada da prevalência do TDAH em crianças e adolescentes na África, indicando que o transtorno é um problema de saúde pública significativo no continente. A alta prevalência, juntamente com as disparidades de gênero e a predominância do subtipo desatento, destaca a necessidade urgente de se dar maior atenção à prevenção e ao tratamento do TDAH na região. As variações metodológicas e culturais entre os estudos sugerem que pesquisas futuras devem explorar as razões dessas diferenças para melhor informar a prática clínica e as políticas de saúde.

Referência:
Ayano, G., Yohannes, K., & Abraha, M. (2020). Epidemiology of attention-deficit/hyperactivity disorder (ADHD) in children and adolescents in Africa: a systematic review and meta-analysis. Annals of General Psychiatry, 19, 21. https://doi.org/10.1186/s12991-020-00271-w.