A Dieta na Promoção da Saúde e Longevidade: Uma Perspectiva Científica

A modulação dietética tem emergido como uma estratégia fundamental na promoção da saúde e no aumento da longevidade, com evidências crescentes que se estendem de organismos modelo a seres humanos. Tradicionalmente, a restrição calórica (RC) tem sido o foco principal, demonstrando em ratos e camundongos melhorias substanciais na saúde durante o envelhecimento, com benefícios notáveis na redução de lesões patológicas e na prevenção de doenças associadas à idade. Em primatas Rhesus, a RC iniciada na fase adulta jovem melhora a saúde metabólica, previne a obesidade e retarda o surgimento de sarcopenia, presbiacusia e atrofia cerebral, além de diminuir o risco de desenvolver e morrer de diabetes tipo 2, câncer e doenças cardiovasculares. Em humanos, a restrição alimentar rigorosa, sem desnutrição, induz alterações fisiológicas, metabólicas e moleculares semelhantes às observadas em animais, incluindo a redução da rigidez miocárdica e da disfunção autonômica relacionadas à idade, menor temperatura corporal e a regulação negativa das vias PI3K/AKT/FOXO e inflamatórias no músculo esquelético. Indivíduos que voluntariamente praticam RC a longo prazo apresentam menor risco para fatores de doenças cardiovasculares e câncer.

No entanto, a implementação e manutenção da RC severa são desafiadoras para a maioria das pessoas, e a nutrição inadequada pode aumentar o risco de disfunções menstruais e reprodutivas, fraturas ósseas osteoporóticas, anemia e arritmias cardíacas. Dessa forma, intervenções dietéticas que evitem níveis irrealistas de privação e abordagens farmacológicas que mimetizem os efeitos benéficos da RC são objetivos importantes para aprimorar a saúde humana durante o envelhecimento.

Recentes avanços têm destacado que não apenas a quantidade, mas também o momento da ingestão alimentar, a composição de nutrientes específicos e o papel da microbiota intestinal são cruciais. O jejum intermitente (JI), por exemplo, que envolve a alternância de períodos de alimentação ad libitum com períodos de jejum, tem demonstrado estender a vida útil em vermes, roedores e potencialmente em humanos, independentemente da ingestão calórica total ou perda de peso. O JI pode conferir proteção contra obesidade, doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes e neurodegeneração. Além disso, a restrição na ingestão de proteínas ou aminoácidos específicos, em vez da restrição calórica geral, tem sido identificada como um fator chave na promoção da saúde e na extensão da longevidade em diversos organismos.

A microbiota intestinal também exerce um papel significativo, com alterações na sua composição e função influenciando diversas vias inflamatórias e metabólicas. A modulação dietética pode levar a mudanças na microbiota que, por sua vez, contribuem para melhorias na saúde. A compreensão desses mecanismos complexos, que incluem interações entre a ingestão calórica, a frequência e o momento das refeições, modificações de nutrientes específicos, a microbiota e a história nutricional, é fundamental para o desenvolvimento de biomarcadores e intervenções dietéticas e farmacológicas mais eficazes e personalizadas para promover um envelhecimento saudável.

Referência:

FONTANA, Luigi; PARTRIDGE, Linda. Promoting Health and Longevity through Diet: From Model Organisms to Humans. Cell, v. 161, n. 5, p. 106-118, 2015.

 

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