A Complexidade da Coocorrência do Transtorno do Espectro Autista em Crianças com TDAH

A coocorrência de Transtorno do Espectro Autista (TEA) em crianças diagnosticadas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) tem se tornado um tópico de crescente interesse na pesquisa pediátrica. As prevalências observadas de ambos os transtornos têm aumentado nas últimas duas décadas. Um estudo recente, utilizando dados da Pesquisa Nacional sobre o Diagnóstico e Tratamento de TDAH e Síndrome de Tourette (NS-DATA) de 2014, investigou as características de crianças com o diagnóstico de ambos os transtornos. Os achados destacam a complexidade dessa população, apontando para necessidades de tratamento mais abrangentes e uma apresentação sintomática de TDAH mais grave.

O estudo revelou que aproximadamente uma em cada oito crianças diagnosticadas com TDAH também possuía um diagnóstico de TEA. A coocorrência foi mais comum em crianças mais novas, com idades entre 4 e 11 anos. Uma possível explicação para esse fenômeno é um “efeito de coorte”, no qual o aumento do reconhecimento de TEA e a maior conscientização sobre a importância da identificação precoce nos últimos anos podem ter contribuído para o diagnóstico em crianças mais novas. Além disso, a mudança no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) permitiu o diagnóstico duplo de TDAH e TEA, o que não era possível nas edições anteriores (DSM-IV).

As crianças com diagnósticos de TDAH e TEA apresentam uma complexidade clínica acentuada, com mais comorbidades psiquiátricas. Elas são mais propensas a ter dois ou mais tipos de transtornos de saúde mental em comparação com crianças que têm apenas TDAH. A presença de TEA está associada a uma maior probabilidade de diagnósticos de transtornos comportamentais, de ansiedade, de humor e de desenvolvimento. Essa combinação de condições pode exacerbar os sintomas de ambos os transtornos, aumentando a probabilidade de apresentação de transtornos adicionais.

A pesquisa também confirmou que a presença de TEA agrava os sintomas do TDAH. Os pais de crianças com TDAH e TEA as classificaram como tendo TDAH “grave” com 2,5 vezes mais frequência do que os pais de crianças apenas com TDAH. Essas crianças também tinham um número significativamente maior de sintomas de desatenção e hiperatividade/impulsividade. Consequentemente, eram mais propensas a ter o subtipo de TDAH combinado (desatento e hiperativo/impulsivo).

As necessidades de tratamento para crianças com ambos os diagnósticos são maiores e mais diversificadas. O estudo mostrou que as crianças com TDAH e TEA tinham uma necessidade significativamente maior de serviços dentro e fora da escola em comparação com as crianças com apenas TDAH. A necessidade de medicação para TDAH, no entanto, não foi significativamente diferente entre os dois grupos. Isso pode ser explicado, em parte, pela eficácia reduzida de estimulantes em crianças com TEA, o que pode levar à busca por tratamentos adicionais e a uma maior necessidade de serviços.

Em suma, a população de crianças com TDAH e TEA é complexa e crescente. A coexistência dos dois transtornos leva a uma apresentação mais grave dos sintomas de TDAH, a uma maior prevalência de comorbidades e a maiores necessidades de tratamento. Esses achados ressaltam a urgência de mais pesquisas e de uma compreensão aprofundada para desenvolver intervenções e diretrizes de tratamento mais eficazes para essa população em crescimento.

Referência:
Zablotsky, B., Bramlett, M. D., & Blumberg, S. J. (2020). The co-occurrence of autism spectrum disorder in children with ADHD. Journal of Attention Disorders, 24(1), 94–103. doi: 10.1177/1087054717713638.

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